Por Erika Morais

Em uma mesa de um bar, conversa vai, conversa vem…a vida, ahhh a vida, tomadas de decisões, indecisões, vida profissional em parafusos, ter um filho, comprar uma bicicleta, mudar radicalmente de emprego…Guilherme me olha e pergunta: Quanto anos mesmo? – 28, quase 29. – Ahhhh… Retorno de Saturno! Até os 30 vai ser assim.

Bom, me conhecendo como acho que me conheço, talvez não seja apenas a influência planetária dos temidos anéis de Saturno. Se tudo passar, depois dos 30…será só uma questão de tempo – ai meu deus, pouco tempo! Antes que os céticos de plantão desistam da leitura, fiquem tranqüilos, este texto não trata de previsões astrológicas ou algo parecido, mas ainda assim resolvi dar uma olhada na internet sobre esse tal de retorno. A coisa é, no mínimo, assustadora. Só para se ter uma idéia, o que você faz no período do danado vai repercutir nos próximos 28 anos de sua vida!

Na verdade, vim aqui pra falar um pouco sobre meus amigos, mais precisamente sobre minhas amigas. De criança, nunca fui dada a amizades com meninas. Os primos da mesma idade – meninos, a vizinhança – meninos, na escola…bem, sempre achei os meninos mais fácil de lidar, menos ego, mais praticidade. Só fui criar e manter amizades femininas na Universidade e é sobre essas que venho falar.

Um parêntese – histórico do Clube das Lulus

Minha turma não era “minha turma”, tornei-me amiga inseparável das meninas que já estavam no COS (o Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas) antes de minha chegada. Esta turma era muito mais “antenada” e divertida do que a turma oficial de 1999, a historia veio comprovar, mas isso é outro papo. E quando eu cheguei o Clube das Luluzinhas já existia. Bom, na verdade a história em quadrinhos já existia há muuuito tempo, as meninas do COS apenas compraram a idéia e se reuniam sem a presença dos “Bolinhas” para celebrar a amizade feminina, beber vinho barato, rir muito e chorar depois de alguns (muitos) tragos…eram os primeiros anos na Universidade.

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Muitos clubes das Lulus depois…

Do final da década passada – e do milênio também (!) – até hoje, muita coisa aconteceu. A vida exige muito e tivemos que descobrir as vantagens e os perrengues do mundo adulto. Sair de casa, mudar de cidade, procurar emprego, viver de bicos, ter filhos, morar com o namorado, se separar do pai do filho, pagar aluguel, lavar a própria roupa, sentir saudades…

E pra nós, que estamos entre 28 e 30 anos de idade, ainda tem o tal do retorno de saturno!

Comprei uma passagem em promoção: compre a ida e pague dez reais na volta. Além de minha mãe, apenas uma das meninas estava sabendo de minha chegada.  Carla convocou um Clube das Lulus Extraordinário – e isso é a cara dela. Imaginem? Um bando de mulheres curiosíssimas sobre a tal surpresa e, é quase o óbvio, todos imaginaram que a Carla estava grávida.

Quando disse à minha mãe que tinha uma surpresa para ela adivinha qual foi a primeira coisa que ela pensou? Emocionada em frente à caixa de diálogos do MSN teve que engolir: não, mãe, não estou grávida, comprei uma passagem, só isso. Decepcionei.

Meu deus, se você tiver passando pelo retorno de saturno é provável que você fique grávida a qualquer momento, pelo menos na cabeça de sua mãe e de suas amigas. Pelo menos enquanto o segredo perdurar elas vão te olhar diferente, vão te imaginar com uma barriga de 8 meses, vão especular sua escolha por vinhos esta noite “talvez seja uma bebida mais fraca” pensarão, ficarão incomodadas de fumar perto de você e se uma delas já teve um bebê, vai separar aqueles livros sobre maternidades para que você se intere o mais rápido possível do assunto. De verdade, isso vai acontecer!

Enquanto fico de castigo na garagem do prédio esperando a última Lulu chegar e o porteiro me olha com espanto por não entender muito bem o que está acontecendo, escuto e identifico cada voz, de cada uma das queridas amigas, de quem sinto tanta falta pela distancia. Escuto obviamente a Keka, como sempre em alto e bom som, Tati, com suas lembranças sem fim, Ju, sempre musical, Fernandinha, acolhedora, Ellen, minha irmã querida que foi abraçada pelas Lulus, sempre me representando em minha ausência física, Vera procurando uma taça para brindar, Carlinha tentando organizar o brinde e Maíra, a última a chegar, com seus resquícios de sotaque, nossa carioca mais alagoana que existe.

Depois do time (quase) completo (Aline chegaria depois),  descubro que tenho que esperar mais cinco minutos. Aí já era demais, tentei identificar o motivo do tempo extra e subi as escadas até a porta do primeiro apartamento, no primeiro andar, do prédio baixo no bairro do Jaraguá, não sem antes deixar o porteiro avisado: elas vão gritar. Percebi a movimentação do brinde e não resisti, bati à porta antes dos cinco minutos.

Dito e feito, depois do grito e do susto inicial não sabiam se a surpresa maior era a minha presença ou a não gravidez de Carla. Senti que por isso minha presença foi quase decepcionante – no bom sentido, é claro. Quando a Aline chegou tive que passar por mais um castigo, desta vez atenuado por uma taça de vinho seco, no quarto, para que o motivo dos cinco minutos, desta vez se concretizasse. Carla fez seu discurso sobre amizade, sobre a felicidade de nos reunirmos e lembrando amigas que estão distantes (Keylla e Sisse na Espanha). Nós gostamos e nos divertimos com essas coisas.

O Clube das Lulus não é mais o mesmo, obviamente, não somos mais as mesmas, o vinho já não é tão barato e agora a mesa de frios é bastante recheada. Os problemas não são mais as aulas do Gusmão, a procura de um estágio ou um ônibus para o próximo encontro de estudantes.  Algumas coisas não mudam nunca, depois de algumas taças, as risadas ficam cada vez mais altas e todas tendem a falar ao mesmo tempo. E por falar em taças, 4 foram quebradas, Keka é nossa recordista, e dias depois, Maíra encontra anotado em sua agenda: “ frase para uma futura camisa ‘toda lulu já derrubou um copo’”. E que venham muitos a serem derrubados!

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