Por ANA PAULA DO REGO

Foi com o intuito de cuidar da minha saúde, que nas minhas últimas férias decidi me matricular em uma academia. Depois de anos combatendo uma hipertensão, achei que me mexer um pouco mais me ajudaria na perda de peso e aliviaria a minha ansiedade que ultimamente tem me atrapalhado bastante.

Escolhi uma academia que ficasse próxima de casa e fui me matricular, mal sabia eu que muito mais do que cuidar da aparência física, os exercícios também me fariam muito bem para mente, aliás “Mente sã, corpo são”, o contrário, no meu caso, também se aplica.

Meu primeiro dia de “geração saúde” até que não foi nada mal, apesar de a recepcionista não ter me dito, enquanto me matriculava, que eu precisaria levar um cadeado para o armário do vestiário e que a carteirinha que eu havia comprado deveria ser passada na catraca eletrônica da entrada, por isso quando cheguei fiquei perdida sem saber o que fazer e onde guardar minhas coisas, foi quando perguntei a uma delas:

– Hoje é meu primeiro dia, por onde eu começo?
– Você marcou horário com algum professor? – pergunta a recepcionista
– Não, ninguém me disse que eu deveria marcar horário. Aonde eu guardo minhas coisas?
– Você trouxe o cadeado? – ela me pergunta
– Não – respondo, já me sentindo um pouco incomodada com aquela situação, ninguém me disse nada do que eu deveria fazer.

Foi então que ela pegou a minha bolsa, a minha blusa e guardou na recepção e foi me apresentar à academia. A entrada eu já conhecia bem, consistia em uma porta de vidro fume, com o cartaz “Favor manter a porta fechada”, ao abri-la você se depara com o balcão da recepção e logo atrás um aglomerado de esteiras e aparelhos que eu conheceria logo depois, uma pequena lanchonete onde o balcão está repleto de barras de cereais e um cartaz dizendo que sucos e lanches naturais são feitos na hora, mesinhas e sofás estão disponíveis para sentar e descansar.

Ao passar a catraca eletrônica já estou nesse universo de suor, musculação, alongamentos, dores musculares, sede, música. Subo as escadas e estou no vestiário feminino, da porta vejo vários armários enumerados, dois bancos de madeira no meio e o barulho do chuveiro.

– Pode entrar se quiser. – a recepcionista me diz. Não entrei, preferi continuar conhecendo aquele lugar.

Ela me apresenta a uma das professoras da academia, uma loira chamada Camila, super simpática que me conduz até a esteira e me explica que eu ficaria ali uns 30 minutos e depois iria para a bicicleta. “Tudo bem”, penso eu.

Enquanto caminhava reparei que atrás de mim haviam outras 10 esteiras maiores e que na fileira onde eu estava também havia a mesma quantidade de esteiras, porém bem menores. Na minha frente algumas bicicletas e outros aparelhos, descendo um pequeno degrau estavam os diversos aparelhos de musculação dos quais homens e mulheres suavam e faziam cara de dor e dificuldade ao levantarem os pesos, fazerem exercícios para as pernas, braços, glúteos e etc. Mais à frente dois estúdios onde outras modalidades como dança, ginástica, aeróbica são praticadas, como as paredes são de vidro, não é raro ver meninas pulando enlouquecidamente em camas elásticas, em uma das aulas chamada “Jump”, cansa só de olhar.

A parte mais constrangedora foi no dia seguinte, dia em que minha avaliação física estava marcada. Somente depois dessa avaliação é que eu estaria liberada para fazer musculação e qualquer outra atividade da academia que consistia mais esforço. Em uma pequena sala com apenas uma mesa com computador, um aparelho de bicicleta, um professor pede que eu preencha um questionário sobre minha saúde, me faz algumas perguntas, pede que eu tire meu tênis, mede minha estatura e peso, levanta minha camiseta e mede minha gordura corporal, me analisa, mede perna, cintura, braço, pulso, batimentos cardíacos, tudo no mais perfeito silêncio, me sinto desconfortável, tento puxar assunto para melhorar aquele clima, mas ele está concentrado em me analisar, me sinto uma cobaia de laboratório e depois de uma hora ele me diz que estou apta.

Essa avaliação foi entregue a outro professor que, dentro dessas informações, montaria meu treino, ou seja, vários exercícios de musculação que começaram já no dia seguinte.

Equipada com minha garrafinha de água, uma toalhinha e uma fichinha azul, contendo os exercícios que iria fazer, seguia a treinadora que me explicava cada exercício que eu faria e me apresentava os aparelhos de musculação. Ao todo foram uma seqüência de nove exercícios para os braços e pernas, além de 40 flexões e 20 “steps” que me deixaram extremamente cansada mas nem um pouco desanimada.

Essa seqüência durou seis dias, sendo que no terceiro dia eu já estava tão familiarizada com eles e com o ambiente que os praticava sozinha e depois ainda tinha fôlego para caminhar na esteira por uma hora.

Estava me sentindo tão bem, tão experiente que, mesmo nunca tendo feito exercício nenhum a vida inteira, me sentia preparada para qualquer coisa, foi então que depois de ver que a moça que treinava ao meu lado na esteira todos os dias, corria uma hora sem parar, decidi fazer igual, ao avançar a intensidade, me pus a correr. Suor, sede, cansaço, paro, olho o cronômetro e havia corrido somente dois minutos, mas parecia tanto tempo. A moça continuava, tranqüilamente, sua corrida. Disfarço, ando mais alguns minutos e quando estou descansada avanço novamente a intensidade. “Agora vou correr uma meia hora”, penso entusiasmada. Suor intenso, cansaço e novamente, dois minutos. Desisto, melhor continuar andando.

No dia seguinte, quase não consigo andar, dores na perna, braço e bolhas no pé, mas isso não diminuiu meu entusiasmo de continuar tentando. Quem sabe logo, logo, já consigo correr.

Conforme os dias vão passando percebo o quanto deixar a minha vida sedentária tem me feito bem. Ir para a academia está me fazendo bem. Ainda não vi os resultados físicos pois estou há apenas 2 semanas praticando, mas os resultados psicológicos já os sinto enormemente.

Ver pessoas, me distrair com novas coisas, praticar, saber que cuido de mim, talvez sejam as razões para que eu me sinta mais tranqüila, menos ansiosa, justamente eu que nunca fui adepta a academia e muito menos musculação.

Talvez seja isso que eu precisava para equilibrar o corre – corre de tantas tarefas e responsabilidades com a liberação de energia que as atividades lá impostas exigem.

Um dia supero limites, quem sabe amanhã consiga correr bem mais na esteira, quem sabe consiga ultrapassar todas as minhas barreiras, quem sabe mais cedo do que eu pense, alcançar longos objetivos, quem sabe consiga transmitir as pessoas que vida saudável e prática de exercícios fazem bem ao corpo, mas principalmente para a mente.