Por WAGNER HILÁRIO
Um homem é um sucesso se pula da cama de manhã,
vai dormir à noite e, nesse meio tempo, faz o que gosta.
Bob Dylan
“Sabe por que o seu nariz sangra?”
Com um lenço de papel amassado na mão esquerda, pressionado contra uma das ventas, ele, com olhar de desdém, me pede para explicar:
“Uhm?”
“Porque você vive contra a sua natureza”, digo-lhe, em tom de brincadeira; voz e gestos de palhaço a dar conselhos ao tesoureiro da trupe. “Os números o corroeram”, continuo, escolhendo as palavras. “As intermináveis contas a pagar, o trabalho autômato, carente de você, o mata pouco a pouco.”
Ele ri, vira a cara como se dissesse “prefiro nem comentar” e estica a mão direita na minha direção num tácito “queira se retirar, por favor”.
Não ignoro a paisagem que se vê da janela atrás dele. Estamos no décimo andar de edifício no Alto da Lapa, zona oeste de São Paulo, e o cobertor de pó que separa o cinza da cidade do azul do céu invernal dá medida da mistura de poeira e carbono que inalamos todos os dias.
Eu mesmo não tinha rinite nem outra espécie de alergia, mas assim que comecei a trabalhar, comecei também a respirar a poeira do progresso.
“O trabalho edifica o homem.” Concordo. Mas a maneira como se nos apresenta a tal da labuta, leva-me a concordar também com a versão que ouvi de um parente:
“O trabalho danifica o homem.”
TAYRA, Flávio, que para trabalhar usa calça jeans, sapato, camisas e, no frio, um pulôver igual aos que via em personagens de filmes americanos da década de 1980, é economista, doutor em economia ambiental, e seu nariz achatado de japonês sangra porque tenta descongestioná-lo a todo instante. De tanto assoá-lo, estourou-lhe um dos vasos, ou alguns dos vasos sanguíneos. Conheço-o há mais de um ano e há mais ou menos três meses ele enfrenta problemas físicos, seja de coluna, de vias respiratórias, ou uma febre que ultrapassa semana de duração por causa da queda na resistência imunológica. Pleno de saúde ele não anda, é fato, apesar de ter apenas trinta e oito anos.
O japonês nasceu em Juquiá, cidade do Vale da Ribeira, região entre a capital e o litoral paulista. É filho de agricultores e, além de fazer matérias e análises econômicas para veículos de comunicação, é professor universitário. No passado, ajudou o pai, transportando e vendendo as bananas da fazenda de Juquiá na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), cuja torre que a faz notável mesmo a quilômetros de distância, ele vê do edifício em que trabalha, no Alto da Lapa.
“Fui criado para ser um ganhador de dinheiro, mas a minha natureza nunca foi essa.”
Tayra gosta de escrever e de ler. Ganhou alguns concursos literários no colégio, quando adolescente. Segundo ele, a esposa, Fátima, que conheceu na faculdade e com quem tem dois filhos, diz que seus textos profissionais não possuem a cara dele. Talvez não tenham o lirismo das cartas de amor que escrevia para ela na época de universitário. Ele nunca me disse que as escrevia. Apenas imagino.
Certa vez, falamos sobre heroísmo.
“Acho que herói é o sujeito que ama o que faz, que se sente feliz e realizado em fazer o que faz, pois, assim, além de disseminar talento, dissemina alegria”, disse-lhe.
“Mas e o sujeito que não teve condições de saber o que quer? Que foi lançado ao mundo quase sem opção de escolha?”, questiona. “E se ele parafusa o dia inteiro, faz um bico à noite e com isso consegue cuidar dos filhos, dá a eles as condições que lhe faltaram?” Interrogações, quando bem colocadas, são mais convincentes do que afirmações.
Tayra me passa a impressão de que, por enquanto, parafusa vírgulas, acentos, conceitos e números, tudo com muito préstimo. Passa-me a impressão de que prega o preto no branco para que ele próprio e os filhos possam fazer o que amam um dia.
“Eu adoro economia. É uma face do homem, não uma ciência exata. A economia é muito rica em humanidade.”
Há anos ele planeja escrever um “romance econômico” baseado no texto Tragédia Brasileira de Manuel Bandeira:
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,
Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituta, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida…
Contudo, ainda não teve tempo. Trabalha quase que de domingo a domingo em grandes reportagens econômicas, nas quais o homem é apenas adereço. Os números são as estrelas…
Diante do nipônico “queira se retirar, por favor” de Tayra – depois de atribuir o sangue do nariz à sua alma contrariada –, vou para a minha mesa. Antes de me sentar, ele chama:
“Wagner!”
Volto e o vejo, sentado em frente ao computador, olhando-me com um sorriso incontido nos lábios.
“Mas esse cenário deve mudar… Eu vou a uma reunião neste fim de semana”, diz-me.
“Sobre o quê?”
“Conheci uma japonesa budista e ela me convidou para participar de um encontro, uma espécie de culto… Vamos ver, né?”
Tayra foi criado para ser um ganhador de dinheiro, mas a natureza dele nunca foi essa.
20 comments
Comments feed for this article
September 4, 2007 at 1:35 pm
Maria Lígia
Wagner, aqui fica muito clara sua habilidade para traçar perfis. Essa microbio (sem acento mesmo. Queis dizer microbiografia… não aquele ser minúsculo que nos causa tanto mal) do Tayra diz muito sobre ele em poucas e precisas palavras. Dá para ver bem a cena, o tipo angustiado do japonês, tentando ser feliz. Achei ainda melhor a relação que você fez entre o título, a labuta, a vida paulistana e todas as cenas apresentadas no texto. Tudo se encaixa. Do sangramento do nariz de Tayra, você tirou todo o resto. Digo ainda que você foi muito feliz na forma que escolheu para abrir este texto, tão palpável e tão repleto de simbolismos ao mesmo tempo.
Parabéns,
Lígia
September 4, 2007 at 2:07 pm
Flávio Tayra
É meu caro. Não sei se fico lisonjeado ou desesperado. O texto, como sempre, está muito bom; vc. parece dominar cada vez mais a arte. A passagem da parafusagem de vírgulas e acentos foi um achado. Mas, o tipo angustiado tentando ser feliz que a Maria Lígia bem detectou (e que a mãe do Felipe e da Helena também tinha percebido, razão de sua ira) é uma licença poética sua.
Mas, ficou legal, me senti um personagem romântico do século 19. Embora todas as angústias existenciais tenham sido resolvidas com um chá de gengibre suador bem caprichado e uma receita médica da Dra. Susana Ferraz.
No balanço final, gostei muito. Forte abraço,
September 4, 2007 at 3:09 pm
Glenda Monteiro
Não sou das mais safas em textos e tal e venho aqui para mais um momento de reflexão…Adoro suas abordagens,sempre irreverentes…
Lendo esse texto me lembrei de uma música:
“Um homem que veio do pó
É o que transforma o pó em ouro
Um homem foi criado só
Mas vive em função do outro
Na natureza onde ele é rei
No universo onde não é nada
Na incerteza e no prazer
Na ilusão de ser amado
Tudo é amor…”
E pensei que não moro nessa São Paulo,nesse caos de poeira e correrias,mas moro num Rio de violências e trânsito,estresse e falta de tempo.Sinto como se não pudesse respirar muitas vezes e antes de enlouquecer procuro parar e olhar,respirar e sentir tudo isso.
Acho que também fui criada para ser uma ganhadora de dinheiro,e o que eu mais quero é encontrar a minha natureza,tentandp viver para o outro e amar…
September 4, 2007 at 4:05 pm
Marlucy
É, Wagner. Mais uma vez, tive a felicidade de estar entre as primeiras pessoas a ler mais um de seus textos, mesmo antes de publicados neste espaço.
O seu talento em utilizar metáforas para descrever angústias e desejos é indiscutível. Não há como não nos identificarmos.
Como conheço o Tayra, sei que ele se viu em cada uma das frases. Ele é o exemplo claro, de que “o trabalho edifica o homem” e “o trabalho danifica o homem”, (não que você esteja tão mal assim, viu Tayra), mas o vejo como uma antítese e não o imagino sem os inúmeros projetos que desenvolve. Ah, e também sem as “dores nas costas”, rsrs. Torço, para que em breve, o próximo projeto seja o tal “romance econômico”.
September 4, 2007 at 4:32 pm
Fred
Wagner, vejo o seu texto não como uma crítica contundente ao sistema de “ter cada vez mais”. O chamado para “ser cada vez mais” está mais presente, mesmo que apenas sugerido. Isso devido àquela sutileza que vc tanto defende ao escrever um texto. As conclusões ficam por nossa conta.
Não penso que alguém tentando ser feliz no meio desse caos seja uma condição vergonhosa ou ofensiva. Na verdade acredito que a grande maioria das pessoas aqui em São Paulo se encontram como tal. Mas enquanto não “temos” tudo o que queremos, ao menos temos como tentar ser o que ainda não somos. Espero que o Flávio encontre mais de si naquele encontro.
Abraços e parabéns pelo perfil!
Fred
September 4, 2007 at 5:06 pm
Renato Ernani
Hoje em dia quase todos somos criados para ganhar dinheiro. E a natureza de quase todos nós também não é essa…
Sinto felicidade em ver que o mesmo ser humano que precisa se matar de trabalhar para o seu sustento é capaz de enxergar a vida de forma poética e sensível.
Parabéns, Wá. Abs.
September 5, 2007 at 2:22 am
César Magalhães Borges
Wagner,
Li o texto com muita preocupação; preocupado com o seu emprego… “E se o Tayra, o tal cara do conto, for o chefe dele?”… Quando, porém, nesta página, também, li o comentário do próprio e simpático Tayra (que não conheço, diga-se de passagem) e vi que ele, assim como muitos “biografados”, sentiu-se, apenas, um personagem “em um romance do século XIX”, fiquei absolutamente tranqüilo ao saber que sua vida e sua rinite irão continuar bem…
Quero, ainda, concordar com o Tayra e reafirmar que a passagem “parafusa vírgulas, acentos, conceitos e números” é um grande achado, algo que, a mim, remete a “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin (ainda moderno, após mais de 70 anos de sua filmagem).
Quanto a “o trabalho danifica o homem”, essa frase eu conheço bem…
Mais uma vez, parabéns pelo belo trabalho!
Um forte abraço,
César Magalhães Borges
September 5, 2007 at 10:37 am
erika
” o trabalho danifica o homem”, até onde sei é “by Maguila”…grande Maguila…
parabéns pelo perfil, Wagner…percebo que tem seguido algumas sugestões em relação à sua escrita, sem perder sua “autoralidade”.
beijos.
September 7, 2007 at 7:17 pm
Lu Taddeo
Wagner! O texto fluiu muito e eu consegui visualizar direitinho vc explicando para o Tayra por que o nariz dele sangra! rs
Será que a natureza dele é ser monge budista? 😉
September 9, 2007 at 8:13 am
Ana
Wagner,
Acho que serei redundante nos meus cometários aqui,rs.Seus textos são visuais, dá para visualizar a situação, as pessoas, o cenário, isso se deve ao fato de você saber captar o que os personagens têm de mais essencial e saber transmitir isso, mais uma vez, excelente!
September 15, 2007 at 7:54 pm
Rodolfo
Wagner,
Você escreve bem, seus textos me chamam a atenção. Compartilho de alguns elogios feitos pelos de riba, dos quais não citarei para não chover no molhado. Mas uma coisa em particular me incomodou, corroborada pelas próprias palavras do “microbiografado”. É a tentativa de ir mais a fundo do que a ocasião requer. Entender uma pessoa, suas entranhas, angústias e desejos não parece ser tão trivial assim, não me pareceu que vocês dois tiveram conversas tão abertas de si mesmos entre vocês. O que há são elementos para reflexões, não “conclusões” como se você fosse um narrador onisciente de personagens reais. O Flávio viu alguns traços “dele” como licenças poéticas suas. Chega a ser até uma imprudência de sua parte quando se trata de jornalismo literário. Muito cuidado. Pelo menos seu terreno é relativamente seguro por se tratar de um “camarada” seu. Para todo pó de cada dia, há o olhar de cada um.
Seu texto ganharia bastante em “literariedade”, observados os poréns acima, se sua reflexão sobre o Flávio “batesse uma bola” com uma reflexão sobre você mesmo dentro desse contexto. Ao mesmo tempo que “ser uma máquina de fazer dinheiro” é fruto da modernidade, a simplificação e as conclusões com poucos elementos (informações) sobre a própria figura do Flávio pode ser outra face da mesma moeda do fazer jornalismo nesse tempo moderno, entrando nessa onda o jornalismo literário, que termina carregando para dentro de si os vícios e má práticas do jornalismo atual e do homem atual, que a cada dia parece que simplifica o outro em modelos pré-concebidos, em rótulos. Tudo urge hoje em dia, é cada vez mais raro urgir-se a conhecer o outro e a si mesmo.
Não sei se consegui ser claro, mas é isso. Continue mandando bala!
September 16, 2007 at 6:53 pm
Wagner Hilário
Olá, Rodolfo
Prazer em conhecê-lo e obrigado pela leitura. Sabia que, pelos comentários tecidos anteriormente, poderia haver uma interpretação como a que faz sobre uma certa falta, de minha parte, com os princípios do JL.
Porém, é bom esclarecer algumas coisas… A “licença poética” a que se referiu o Tayra precisa ser entendida entre aspas. O Tayra sabe disso. Do contrário, mesmo sendo “camarada” não me deixaria publicar esse texto. Quanto a termos ou não conversado sobre esse tema inúmeras vezes, posso lhe assegurar que é o tema mais recorrente em nossas conversas, e eu o conheço há mais de um ano.
A carga de desespero que muitos leitores enxergaram no personagem não é algo que afirmo no texto. Em momento algum digo isso explicitamente. Depreenderam. O início, em que narro um diálogo entre mim e ele, colabora para isso. Mas a cena foi exatamente como a descrevi. Fica claro que eu, como amigo, é quem está dizendo, em tom de brincadeira, que ele é um sofredor desesperado. Ah, o sangue no nariz, em especial, colabora para isso. As reações dele são as de quem discorda, ou ao menos não concorda com aquele exagero.
Porém, nossos bate-papos e mesmo o desfecho da cena contribui para a tese do trabalho não apenas como algo edificante, mas também danificante e, no caso dele, à vezes mais do que o necessário. O Tayra chegou a me dizer que o meu texto era mais sincero do que a “automicrobiografia” que ele escreveu certa vez.
Evidente que tem muito de mim no texto. Apesar de ter feito JL, não tenho a presunção da “isentabilidade” ou da imparcialidade. Posso lhe assegurar, que não incorri em análises simplistas, apenas enfatizei uma faceta do personagem que não poderia, de modo algum, ser tratado em toda sua complexidade.
Acho que a maior parte das pessoas não se vê refletida por inteiro, tampouco em parte considerável, no que fazem. Isso não é simplismo, é um drama universal e moderno. O Tayra pode dizer o que pensa a respeito e, aliás, convido-o a fazer isso.
Grande abraço e, por favor, continue a colocar suas impressões acerca dos textos. Esse tipo de discussão enriquece o blog.
September 17, 2007 at 3:28 am
Rodolfo
Oi, Wagner,
Nada como um dia depois do outro, com mais ou menos pó. Aliás, o calor aqui tá infernal, não chove há meses.
Obrigado pela sua resposta e apontamentos, gostei das direções diferentes que você apontou à minha vista. Enriquecedoras.
Reli seu texto novamente e o que escrevemos. Hoje sinto-me diferente de ontem e a leitura de seu texto foi mais amena, o “Wagner não me pareceu presunçoso, ele estava brincando, relativize, dê-lhe um crédito, não seja ranzinza” (é claro que meu português mental foi absolutamente informal e incorreto, danem-se as concordâncias, próclises e mesóclises e viva os palavrões). Mas algumas coisas ainda considero pertinentes, condensadas em duas palavras: jornalismo literário.
O drama universal e moderno que você muito bem menciona é ponto pacífico, principalmente hoje em dia quando imagem é tudo, sede (de conhecer) não é nada (Sprite ainda existe?). Mas note que um jornalista (ou escritor, sendo que uma coisa não exclui a outra) não se pode dar ao luxo, por definição, de refletir uma imagem ou traços que o próprio autobiografado franze a testa sem apresentar elementos que comprovem pelo menos essa visão de quem escreve, seja através de depoimentos de pessoas próximas e do próprio, documentos, situações etc.
(muito inspiradora a amizade de vocês, as conversas travadas entre o zunzunzun da máquina de fazer dinheiro. Vejam! As engrenagens são humanas!)
Posso até queimar a própria língua e os pensamentos e adoraria que o Flávio pudesse escrever com uma tocha ou um palito de fósforo à mão, disso não tenho medo, figurativamente falando (e até porque estou protegido nesse mundo virtual contra as chamas), mas coloco essas questões para você refletir sobre o fazer jornalismo literário.
De toda forma, continue considerando minhas críticas como construtivas. Caso eu fizesse o contrário, seria bom como lição, ou se preferir, para eu ver o que é bom pra tosse, que meu nariz sangrasse.
Um forte abraço.
September 17, 2007 at 3:31 am
Rodolfo
PS: Que esse tipo de discussão também te enriqueça. Mesmo que um coconésimo.
September 17, 2007 at 1:17 pm
Wagner Hilário
Olá, Rodolfo…
Bem, acho que, com base em suas palavras, para o leitor ficou a impressão de que o biografado franze a testa para o que escrevo dele próprio.
Estou convicto de que não franze a testa para o que escrevo, mas seguramente para a forma como me dirijo a ele em diálogo reproduzido no texto. Há uma diferença sutil entre o conteúdo do diálogo e a idéia do texto.
De qualquer maneira, literatura é, antes de mais nada, a meu ver, entrelinhas. Não creio que precise deixar tão explícito alguns conceitos. Aliás, acho que o desfecho do texto diz muito do como pensa o perfilado.
Mas, como falamos de JL, talvez você tenha razão. Talvez eu precise ser mais cuidadoso. Talvez a ligação entre a idéia do texto e o personagem deva ser mais explícita. Especialmente depois de o perfilado ter escrito que me vali de licença poética na construção desse texto.
Seguramente, seus comentários me enriquecem e não um coconésimo, mais do que isso.
Grande abraço.
September 17, 2007 at 3:56 pm
Flávio Tayra
Meus caros Wagner e Rodolfo,
Dado que “microbiografado” e convidado a participar…
Sobre as opiniões emitidas: não tucanamente (mas já sendo), acho que ambos estão corretos em suas posições. O “camarada” Wagner identificou uma faceta minha (que não questiono) que é, hoje em dia, um drama quase universal em tempos de invasões bárbaras. A “machina e fábrica incrível” precisa ser constantemente alimentada e a gente vai se consumindo junto. Achei interessante ele ter destacado isso.
Outra característica nesses tempos é a superficialidade destacada pelo Rodolfo e isso, imagino, é uma coisa que os jornalistas (de modo geral) precisam atentar. Querer mergulhar sem molhar os pés e dizer como estava lá no fundo, ou, ter uma opinião sobre um filme ou livro (ou qualquer coisa) após ler uma matéria macambumzia na Veja ou coisa do gênero. Tempos difíceis esses. O Wagner pode ter acentuado características e desenhado um contexto próprio para sua interpretação, mas o crime não foi a superficialidade.
De mais a mais, a discussão tá boa e pertinente (coisa que, aliás, tá faltando nesse blog…).
Abraços aos camaradas.
PS.: Rodolfo, me diga aí, o que é o JL pra vc.?
September 19, 2007 at 12:29 am
Rodolfo
Mas olha só que legal, um bate-papo com o Cara do texto! Aliás, Tayra, você escreve bem, espero que o incentivo que o Wagner te deu no texto dele o faça pensar mais seriamente em desenvolver uma máquina do tempo para fabricar algumas horas a mais para a sua escrita.
Ouvidas todas as partes, só me resta dizer que, como uma crônica, o texto é bom. Como JL deixou frentes abertas para invasões bárbaras e robertas (ouch, essa doeu… próxima vez capricho melhor na piadinha). Como bem disse o escritor, cada um tem um entendimento próprio. O texto passou-me uma impressão superficial quando se pensa em JL. Como crônica, fez o papel dela muito bem.
Mas aí veio o Tayra, afiadíssimo com sua chave de fenda de parafusar e desparafusar vírgulas e acentos, a perguntar para esse linguarudo o que ele entende por JL. Seu PS foi o destaque. Eu não entendo de muita coisa, muito menos JL, mas arrisco a dar o meu entendimento sobre ele, diga-se de passagem bem vago, por ser bem geral. O próprio nome diz que é uma mistura de elementos jornalísticos e literários. Os formalismos da escrita são “afrouxados”, cedendo um lugar às metáforas, ao lirismo, aos sentimentos, à literariedade. Por outro lado, o formalismo do jornalismo não abre mão de seu papel investigativo (quando for a ocasião), real e factual. Esse é meu entendimento, tão geral q
September 19, 2007 at 12:42 am
Rodolfo
ops… deu pane. Continuando.
tão geral que chega a ser de leigo, o que é o caso. Mas por ser assim tão geral, mas nem por isso errado, qualquer coisa que fuja a ele é, vamos dizer assim, escandaloso por fugir do básico, do senso comum.
Esse é o meu entendimento se ele for o que o próprio nome sugere. Não li conceitos e nem opiniões de autores sobre o que é JL. Desconheço até a existência de correntes distintas. E nem procurei na internet conceitos ou consensos antes de escrever isso aqui ou emitir opiniões. Mas se o entendimento mais geral for diferente do q, errou-se no batismo. Arrisco a dizer tudo isso, mas está lançada a discussão e o alvo.
September 19, 2007 at 12:44 am
Rodolfo
De novo!!! Desisto, deve ser abstinência, saio teclando em tudo que é tecla ao mesmo tempo. Vai assim mesmo, senão a zona piora ainda mais.
Grande abraço, Camaradas!
September 24, 2007 at 12:02 am
Érico Marin
Um tapa com luva de pelica? Você acabou encontrando uma forma sutil de questionar o rumo que damos às nossas vidas. Acho que você acabou conseguindo explicar a ausência de heróis neste nosso tempo (afinal, quantos de nós, dadas as exigências de hoje em dia, faz o que ama?),além de descrever de forma realista a situação da imensa maioria de nós -“condenados” a viver sem fazer o que gostamos. Só não consegui descobrir se Tayra representa o homem contemporâneo ou o escritor tendo de lidar com a vida prática…